Presença e diversidade de frutas nativas brasileiras em bebidas manipuladas da Via Gastronômica de Coqueiros (Florianópolis/SC)

  • Luís Otávio Destri Pessôa
  • Liz Cristina Camargo Ribas Instituto Federal de Santa Catarina - Câmpus Florianópolis-Continente
Palavras-chave: Frutas brasileiras. Biodiversidade. Bebidas. Gastronomia.

Resumo

O Brasil é um país megadiverso, detentor de uma expressiva porção da diversidade biológica mundial. Essa biodiversidade, ainda subutilizada e negligenciada na gastronomia nacional, pode ser considerada um reflexo do atual sistema alimentar globalizado, baseado em um reduzido número de espécies produzidas em larga escala. Dentro desse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a presença, diversidade, frequência e demanda de frutas nativas brasileiras em bebidas manipuladas de restaurantes, bares e similares localizados na Via Gastronômica de Coqueiros (Florianópolis/SC). Verificou-se que dos 146 diferentes coquetéis manipulados oferecidos pelos estabelecimentos analisados (n=15), 89% eram formulados com frutas, sendo apenas 25,3% elaborados com frutas brasileiras. Em relação aos sucos, foram encontradas 25 diferentes formulações, das quais 9 (36%) utilizavam frutas nativas do país. Abacaxi e maracujá (frutas já consolidadas no mercado mundial) foram as frutas brasileiras com destaque em todas as formulações. Caju, pitanga, jabuticaba e butiá também foram encontrados, porém com pouca expressividade. Observou-se um potencial ainda pouco explorado de diversificação e inovação das cartas de bebidas locais, através da utilização mais efetiva da biodiversidade autóctone brasileira.

Referências

ALTIERI, M. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. 3 ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012.

ANDRADES, T.O.; GANIMI R.N. Revolução Verde e a apropriação capitalista. CES Revista, v. 21, p. 43-56. Disponível em: https://www.cesjf.br/revistas/cesrevista/edicoes/2007/revolucao_verde.pdf. Acesso em: 15 set. 2018.

ASSUNÇÃO, A. T. C.; ROCHA, F. G.; RIBAS, L. C. C. Perfil dos trabalhadores de cozinha da Via Gastronômica de Coqueiros e notas sobre a qualificação profissional no setor de alimentos e bebidas em Florianópolis/SC. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 4, n. 3, p. 24-40, 2010.

BIODIVERSITY FOR FOOD AND NUTRITION (BFN). Mainstreaming biodiversity fo food and Nutrition: benefits for agriculture, health and livelihoods. Curso online. Disponível em: http://www.b4fn.org/pt/curso-online/?tx_femanager_pi1%5Baction%5D=new&tx_femanager_pi1%5Bcontroller%5D=New#Home. Acesso em: 10 set. 2018.

BOBBIO, F. O. et al. Identificação e quantificação das antocianinas do fruto do açaizeiro (Euterpe oleracea) Mart. Ciênc. Tecnol. Aliment., v. 20, n. 3, p. 388-390, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20612000000300018&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 mar. 2020.

BOURSCHEID, K. et al. Euterpe edulis: palmito-juçara. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A; REIS, A. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2011. p. 178-183.

BRASIL. Decreto Federal Nº 6.871, de 4 de junho de 2009. Regulamenta a Lei No 8.918/1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Brasília, DF: [s. n.], 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6871.htm. Acesso em 12 de setembro de 2018.

CARRASCO, B.; BARROS, K. Vias gastronômicas: as ruas da Grande Floripa que são ponto de encontro para comer bem. Notícias do Dia Online. 2016. Disponível em: https://ndonline.com.br/florianopolis/plural/vias-gastronomicas-as-ruas-da-grande-floripa-que-sao-ponto-de-encontro-para-comer-bem. Acesso em: 09 out. 2018.

CORADIN, L.; CAMILLO, J. Introdução. In: VIEIRA, R. F.; CAMILLO, J.; CORADIN, L. (ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro - Região Centro-Oeste. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2016.

CORADIN, L.; SIMINSKI, A; REIS, A. (ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro - Região Sul. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2011.

CROSBY, A. W. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa 900 – 1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 375p.

DOCEIRO nacional ou arte de fazer toda a qualidade de doces. 4. ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1895. 339p. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/3821. Acesso em: 17 out. 2018.

FONSECA, M. T. Tecnologias gerenciais de restaurantes. São Paulo: Senac, 2014.

GOOGLE MAPS. Google Maps: ferramenta de pesquisa de localizações. Disponível em: https://www.google.com.br/maps. Acesso em: 07 abr. 2018.

GUIA FLORIPA. Coqueiros. Disponível em: http://www.guiafloripa.com.br/cidade/bairros/coqueiros. Acesso em: 05 nov. 2018.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS (FAO). Building on gender, agrobiodiversity and local knowledge: a training manual. Rome, Italy: Food and Agriculture. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/007/y5609e/y5609e02.htm#TopOfPage. Acesso em: set. 2018. Publicado em: 2005.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS (FAO). Superação da fome e da pobreza rural: iniciativas brasileiras. Brasília, DF: FAO, 2016. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i5335o.pdf. Acesso em 12 nov. 2018. Publicado em: 2016.

FRANCO, J. L. A. O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade. História, v. 32, n. 2, p. 21-48, 2013.

HUE, S. M. Delícias do descobrimento – a gastronomia brasileira no século XVI. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

INTERNATIONAL BARTENDERS ASSOCIATION (IBA). Contemporary classics. Disponível em: https://iba-world.com/contemporary-classics/. Acesso em 13 dez. 2018.

KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.

LEITE, L. L.; CORADIN, L. Introdução. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A; REIS, A. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2011. p. 17-24.

LEWINSOHN, T. M.; PRADO, P. I. How many species there are in Brazil? Conservation Biology, v. 19, n. 3, p. 619–624, 2005.

LOBO, L. Coquetéis. São Paulo: Globo, 2005.

LORENZI, H.; LACERDA, M. T. C.; BACHER, L. B. Frutas no Brasil: nativas e exóticas (de consumo in natura). São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2015.

MEIRELLES, L. Soberania Alimentar, agroecologia e mercados locais. Agriculturas, v. 1, n. 0, p. 11-14. 2004. Disponível em: http://orgprints.org/21244/1/Meirelles_soberania.pdf. Acesso em: 12 nov. 2018.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA/BRASIL). Biodiversidade brasileira. Brasília (DF): Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira. Acesso em: 09 ago. 2018a.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA/BRASIL). Biodiversidade para
Alimentação e Nutrição. Brasília (DF): Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/biodiversidade/conservacao-e-promocao-do-uso-da-diversidade-genetica/biodiversidade-para-alimenta%C3%A7%C3%A3o-e-nutri%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 12 nov. 2018b.

MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS/BRASIL). Alimentos regionais brasileiros. 2. ed., Secretaria de Atenção à Saúde - Departamento de Atenção Básica, Brasília: Ministério da Saúde, 2015.

MIRANDA, E. E. O descobrimento da biodiversidade: a ecologia de índios, jesuítas e leigos no século XVI. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

MITTERMEIER, R. A.; GIL, P. R.; MITTERMEIER, C. G. Megadiversidad: los países biológicamente más ricos del mundo. 1 ed., México: Cementos Mexicanos, 1997.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Convenção Sobre Diversidade Biológica – CDB. Tratado nas Nações Unidas, Rio de Janeiro: CNUMAD, 1992.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Florianópolis – Cidade UNESCO da Gastronomia. Disponível em: http://floripamanha.org/wp-content/uploads/2014/02/unesco_relatorio_6a_2013.pdf. Acesso em: set. 2018. Publicado em: 2013.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Florianópolis, a primeira Cidade Criativa UNESCO da Gastronomia no Brasil. Disponível em: http://www.floripacreativecity.com/. Acesso em: set. 2018.

RIBEIRO, L. O.; MENDES, M. F.; PEREIRA, C. S. S. Avaliação da composição centesimal, mineral e teor de antocianinas da polpa de juçaí (Euterpe edulis Martius). Revista Eletrônica TECCEN, v. 4, n. 2, p. 5-16, 2011. Disponível em: http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index.php/TECCEN/article/view/276/223. Acesso em: 10 mar. 2020.

RODRIGUES, E. T. Frutos do cerrado: a influência dos frutos do cerrado na diversificação da gastronomia. 2004. 91 f. Monografia (Pós-Graduação em Gastronomia e Segurança alimentar) – Universidade de Brasília, Brasília (DF), 2004. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/524/1/2004_ElaineTellesRodrigues.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.

ROYAL BOTANIC GARDENS KEW (RBG KEW). The state of the world’s plants report – 2016. Richmond (UK): Royal Botanic Gardens Kew, 2016. Disponível em: https://stateoftheworldsplants.org/2016/. Acesso em: 5 set. 2018.

SLOW FOOD BRASIL. Biodiversidade, arca do gosto e fortalezas do Slow Food: um guia para entender o que são, como se relacionam com o que comemos e como podemos apoiá-las. São Paulo: Slow Food Brasil, 2018. Disponível em: http://slowfoodbrasil.com/documentos/slowfood-publicacao.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.

VIEIRA, D. J. V. Análise da procedência e da sazonalidade da “salada de frutas” catarinense: um estudo de caso na Central de Abastecimento do Estado de Santa Catarina – CEASA/SC (Unidade São José). 2017. 43 f. Trabalho de Conclusão – Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFSC, Florianópolis (SC), 2017.

VIEIRA, R. F.; CAMILLO, J.; CORADIN, L. (ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro - Região Centro-Oeste. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2016.

VIVA COQUEIROS. Via gastronômica de Coqueiros em Florianópolis. Disponível em: https://vivacoqueiros.com/via-gastronomica-de-coqueiros/. Acesso em: 10 out. 2018.

YUYAMA, K. et al. Camu-camu: um fruto fantástico como fonte de vitamina C1. Acta Amaz., v. 32, n. 1, p. 169-174, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0044-59672002000100169&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 01 nov. 2018.

ZIMMERMANN, C. L. Monocultura e transgenia: impactos ambientais e insegurança alimentar. Veredas do Direito, v. 6, n. 12, p. 79-100, 2009. Disponível em Acesso: out. 2018.
Publicado
2020-09-09
Edição
Seção
Artigos