Presença e diversidade de frutas nativas brasileiras em bebidas manipuladas da Via Gastronômica de Coqueiros (Florianópolis/SC)
Resumo
O Brasil é um país megadiverso, detentor de uma expressiva porção da diversidade biológica mundial. Essa biodiversidade, ainda subutilizada e negligenciada na gastronomia nacional, pode ser considerada um reflexo do atual sistema alimentar globalizado, baseado em um reduzido número de espécies produzidas em larga escala. Dentro desse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a presença, diversidade, frequência e demanda de frutas nativas brasileiras em bebidas manipuladas de restaurantes, bares e similares localizados na Via Gastronômica de Coqueiros (Florianópolis/SC). Verificou-se que dos 146 diferentes coquetéis manipulados oferecidos pelos estabelecimentos analisados (n=15), 89% eram formulados com frutas, sendo apenas 25,3% elaborados com frutas brasileiras. Em relação aos sucos, foram encontradas 25 diferentes formulações, das quais 9 (36%) utilizavam frutas nativas do país. Abacaxi e maracujá (frutas já consolidadas no mercado mundial) foram as frutas brasileiras com destaque em todas as formulações. Caju, pitanga, jabuticaba e butiá também foram encontrados, porém com pouca expressividade. Observou-se um potencial ainda pouco explorado de diversificação e inovação das cartas de bebidas locais, através da utilização mais efetiva da biodiversidade autóctone brasileira.
Referências
ANDRADES, T.O.; GANIMI R.N. Revolução Verde e a apropriação capitalista. CES Revista, v. 21, p. 43-56. Disponível em: https://www.cesjf.br/revistas/cesrevista/edicoes/2007/revolucao_verde.pdf. Acesso em: 15 set. 2018.
ASSUNÇÃO, A. T. C.; ROCHA, F. G.; RIBAS, L. C. C. Perfil dos trabalhadores de cozinha da Via Gastronômica de Coqueiros e notas sobre a qualificação profissional no setor de alimentos e bebidas em Florianópolis/SC. Revista Brasileira de Pesquisa em Turismo, v. 4, n. 3, p. 24-40, 2010.
BIODIVERSITY FOR FOOD AND NUTRITION (BFN). Mainstreaming biodiversity fo food and Nutrition: benefits for agriculture, health and livelihoods. Curso online. Disponível em: http://www.b4fn.org/pt/curso-online/?tx_femanager_pi1%5Baction%5D=new&tx_femanager_pi1%5Bcontroller%5D=New#Home. Acesso em: 10 set. 2018.
BOBBIO, F. O. et al. Identificação e quantificação das antocianinas do fruto do açaizeiro (Euterpe oleracea) Mart. Ciênc. Tecnol. Aliment., v. 20, n. 3, p. 388-390, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-20612000000300018&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 mar. 2020.
BOURSCHEID, K. et al. Euterpe edulis: palmito-juçara. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A; REIS, A. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2011. p. 178-183.
BRASIL. Decreto Federal Nº 6.871, de 4 de junho de 2009. Regulamenta a Lei No 8.918/1994, que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Brasília, DF: [s. n.], 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D6871.htm. Acesso em 12 de setembro de 2018.
CARRASCO, B.; BARROS, K. Vias gastronômicas: as ruas da Grande Floripa que são ponto de encontro para comer bem. Notícias do Dia Online. 2016. Disponível em: https://ndonline.com.br/florianopolis/plural/vias-gastronomicas-as-ruas-da-grande-floripa-que-sao-ponto-de-encontro-para-comer-bem. Acesso em: 09 out. 2018.
CORADIN, L.; CAMILLO, J. Introdução. In: VIEIRA, R. F.; CAMILLO, J.; CORADIN, L. (ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro - Região Centro-Oeste. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2016.
CORADIN, L.; SIMINSKI, A; REIS, A. (ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro - Região Sul. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2011.
CROSBY, A. W. Imperialismo ecológico: a expansão biológica da Europa 900 – 1900. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. 375p.
DOCEIRO nacional ou arte de fazer toda a qualidade de doces. 4. ed. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1895. 339p. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/3821. Acesso em: 17 out. 2018.
FONSECA, M. T. Tecnologias gerenciais de restaurantes. São Paulo: Senac, 2014.
GOOGLE MAPS. Google Maps: ferramenta de pesquisa de localizações. Disponível em: https://www.google.com.br/maps. Acesso em: 07 abr. 2018.
GUIA FLORIPA. Coqueiros. Disponível em: http://www.guiafloripa.com.br/cidade/bairros/coqueiros. Acesso em: 05 nov. 2018.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS (FAO). Building on gender, agrobiodiversity and local knowledge: a training manual. Rome, Italy: Food and Agriculture. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/007/y5609e/y5609e02.htm#TopOfPage. Acesso em: set. 2018. Publicado em: 2005.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATIONS (FAO). Superação da fome e da pobreza rural: iniciativas brasileiras. Brasília, DF: FAO, 2016. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i5335o.pdf. Acesso em 12 nov. 2018. Publicado em: 2016.
FRANCO, J. L. A. O conceito de biodiversidade e a história da biologia da conservação: da preservação da wilderness à conservação da biodiversidade. História, v. 32, n. 2, p. 21-48, 2013.
HUE, S. M. Delícias do descobrimento – a gastronomia brasileira no século XVI. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.
INTERNATIONAL BARTENDERS ASSOCIATION (IBA). Contemporary classics. Disponível em: https://iba-world.com/contemporary-classics/. Acesso em 13 dez. 2018.
KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.
LEITE, L. L.; CORADIN, L. Introdução. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A; REIS, A. Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2011. p. 17-24.
LEWINSOHN, T. M.; PRADO, P. I. How many species there are in Brazil? Conservation Biology, v. 19, n. 3, p. 619–624, 2005.
LOBO, L. Coquetéis. São Paulo: Globo, 2005.
LORENZI, H.; LACERDA, M. T. C.; BACHER, L. B. Frutas no Brasil: nativas e exóticas (de consumo in natura). São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2015.
MEIRELLES, L. Soberania Alimentar, agroecologia e mercados locais. Agriculturas, v. 1, n. 0, p. 11-14. 2004. Disponível em: http://orgprints.org/21244/1/Meirelles_soberania.pdf. Acesso em: 12 nov. 2018.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA/BRASIL). Biodiversidade brasileira. Brasília (DF): Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/biodiversidade/biodiversidade-brasileira. Acesso em: 09 ago. 2018a.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA/BRASIL). Biodiversidade para
Alimentação e Nutrição. Brasília (DF): Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/biodiversidade/conservacao-e-promocao-do-uso-da-diversidade-genetica/biodiversidade-para-alimenta%C3%A7%C3%A3o-e-nutri%C3%A7%C3%A3o. Acesso em: 12 nov. 2018b.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS/BRASIL). Alimentos regionais brasileiros. 2. ed., Secretaria de Atenção à Saúde - Departamento de Atenção Básica, Brasília: Ministério da Saúde, 2015.
MIRANDA, E. E. O descobrimento da biodiversidade: a ecologia de índios, jesuítas e leigos no século XVI. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
MITTERMEIER, R. A.; GIL, P. R.; MITTERMEIER, C. G. Megadiversidad: los países biológicamente más ricos del mundo. 1 ed., México: Cementos Mexicanos, 1997.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Convenção Sobre Diversidade Biológica – CDB. Tratado nas Nações Unidas, Rio de Janeiro: CNUMAD, 1992.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Florianópolis – Cidade UNESCO da Gastronomia. Disponível em: http://floripamanha.org/wp-content/uploads/2014/02/unesco_relatorio_6a_2013.pdf. Acesso em: set. 2018. Publicado em: 2013.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA (UNESCO). Florianópolis, a primeira Cidade Criativa UNESCO da Gastronomia no Brasil. Disponível em: http://www.floripacreativecity.com/. Acesso em: set. 2018.
RIBEIRO, L. O.; MENDES, M. F.; PEREIRA, C. S. S. Avaliação da composição centesimal, mineral e teor de antocianinas da polpa de juçaí (Euterpe edulis Martius). Revista Eletrônica TECCEN, v. 4, n. 2, p. 5-16, 2011. Disponível em: http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index.php/TECCEN/article/view/276/223. Acesso em: 10 mar. 2020.
RODRIGUES, E. T. Frutos do cerrado: a influência dos frutos do cerrado na diversificação da gastronomia. 2004. 91 f. Monografia (Pós-Graduação em Gastronomia e Segurança alimentar) – Universidade de Brasília, Brasília (DF), 2004. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/524/1/2004_ElaineTellesRodrigues.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.
ROYAL BOTANIC GARDENS KEW (RBG KEW). The state of the world’s plants report – 2016. Richmond (UK): Royal Botanic Gardens Kew, 2016. Disponível em: https://stateoftheworldsplants.org/2016/. Acesso em: 5 set. 2018.
SLOW FOOD BRASIL. Biodiversidade, arca do gosto e fortalezas do Slow Food: um guia para entender o que são, como se relacionam com o que comemos e como podemos apoiá-las. São Paulo: Slow Food Brasil, 2018. Disponível em: http://slowfoodbrasil.com/documentos/slowfood-publicacao.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.
VIEIRA, D. J. V. Análise da procedência e da sazonalidade da “salada de frutas” catarinense: um estudo de caso na Central de Abastecimento do Estado de Santa Catarina – CEASA/SC (Unidade São José). 2017. 43 f. Trabalho de Conclusão – Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia, IFSC, Florianópolis (SC), 2017.
VIEIRA, R. F.; CAMILLO, J.; CORADIN, L. (ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro - Região Centro-Oeste. Brasília (DF): MMA/BRASIL, 2016.
VIVA COQUEIROS. Via gastronômica de Coqueiros em Florianópolis. Disponível em: https://vivacoqueiros.com/via-gastronomica-de-coqueiros/. Acesso em: 10 out. 2018.
YUYAMA, K. et al. Camu-camu: um fruto fantástico como fonte de vitamina C1. Acta Amaz., v. 32, n. 1, p. 169-174, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0044-59672002000100169&lng=en&nrm=iso . Acesso em: 01 nov. 2018.
ZIMMERMANN, C. L. Monocultura e transgenia: impactos ambientais e insegurança alimentar. Veredas do Direito, v. 6, n. 12, p. 79-100, 2009. Disponível em
Copyright (c) 2020 Revista Brasileira de Gastronomia
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
O conteúdo da revista é de acesso público e gratuito, podendo ser compartilhado de acordo com os termos da Creative Commons Atribuição - Uso não-comercial - Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil. Você tem a liberdade de compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra, sob as seguintes condições:
a) Atribuição — a atribuição deve ser feita quando alguém compartilhar um de seus artigos e deve sempre citar o nome da revista e o endereço do conteúdo compartilhado.
b) Uso não-comercial — você não pode usar esta obra para fins comerciais.
c) Vedada à criação de obras derivadas — você não pode alterar, transformar ou criar em cima desta obra.
Ficando claro que:
Renúncia — qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais. Domínio Público — onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
Outros Direitos — os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
- Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
- Os direitos morais do autor;
- Sireitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
Aviso — para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra.
A revista se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
Os trabalhos publicados passam a ser propriedade da Revista Brasileira de Gastronomia que deve ser consignada a fonte de publicação original. Os originais não serão devolvidos aos autores.
As opiniões emitidas pelos autores nos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.
Esta obra está licenciada sob uma Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 4.0 Internacional.