Aceitabilidade e rentabilidade de filés de peixe xerelete (manezinho) – Caranx crysos (Mitchill, 1815) – submetidos à defumação tradicional e líquida
Resumo
O Estado de Santa Catarina destaca-se como o maior produtor nacional de pescados provenientes de atividade extrativa marinha. Entretanto, conforme a literatura, das espécies de peixes com registro de desembarque pela pesca industrial e artesanal catarinense, apenas 6% são utilizadas gastronomicamente em restaurantes da região. A maioria das espécies subutilizadas e subvalorizadas são provenientes da pesca artesanal, como o peixe conhecido por xerelete ou “manezinho” (Caranx crysos). Como forma de agregar valor comercial a essa espécie, valorizando a própria pesca artesanal, o presente trabalho visou analisar a aceitabilidade, intenção de compra e rentabilidade de filés de xerelete submetidos à defumação tradicional e à defumação líquida. Os testes de aceitabilidade e intencionalidade de compra mostraram-se promissores, sendo ambos os tratamentos aceitos pelos julgadores (n = 90) – com superioridade apontada para a defumação tradicional. Em relação à rentabilidade, houve perdas médias de 37% na filetagem e 53% durante todo o processo – até o produto defumado final. Verifica-se que a espécie apresenta potencial gastronômico promissor quando submetida a processos de defumação, especialmente por ser rica em lipídeos, os quais auxiliam na fixação do aroma característico da fumaça.
Referências
ADITIVOS & INSUMOS. Onde e como utilizar o aroma de fumaça. p.35-38. Disponível em: http://www.insumos.com.br/aditivos_e_ingredientes/materias/723.pdf. Acesso em:12 mar. 2016.
ANDRADE, H. A. A produção da pesca industrial em Santa Catarina. Notas técnicas - FACIMAR, CTTMar Univali, v. 2, p. 1-16, 1998.
ANZALDÚA-MORALES, A. La evaluación sensorial de los alimentos en la teoría y la prática. Zaragoza: Acribia S.A., 1994.
BIATO, D. O. Detecção e controle de off flavour em tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus), por meio de depuração e defumação. 2005. 105 f. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologia de Alimentos) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba (SP), 2005.
BRASIL. Decreto nº 9.013, de 29 de março de 2017. Regulamenta a Lei nº 1.283, de 18 de dezembro de 1950, e a Lei nº 7.889, de 23 de novembro de 1989, que dispõem sobre a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal. Brasília (DF): Diário Oficial da União, 2017. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9013.htm#art541. Acesso em: 28 abr. 2020
BURDA, C. L. Análise ecológica da pesca artesanal e consumo de pescado por quatro comunidades pesqueiras da Costa de Itacaré (BA). 2007. 109 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas Aquáticos) – Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA, 2007.
CARDOSO, E. S. Pescadores artesanais: natureza, território, movimento social. 2001. 143 f. Tese (Doutorado em Geografia Fisica), Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), 2001.
CONTRERAS-GUZMÁN, E. C. Bioquímica de pescados e derivados. Jaboticabal, SP: FUNEP, 1994.
DUTCOSKY, S. D. Análise sensorial de alimentos. 4 ed., Curitiba: Champagnat, 2013. 531p.
EMERENCIANO, M. G. C.; SOUZA, M.; FRANCO, N. Avaliação de técnicas de defumação para mexilhão Perna perna: análise sensorial e rendimento. Boletim do instituto de Pesca (SP), v. 34, n. 2, p. 231-219, 2008.
FISHBASE. Caranx crysos (Mitchill, 1815). Disponível em: http://www.fishbase.se/summary/Caranx-crysos.html. Acesso em: 12 ago. 2015.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS (FAO). The state of world fisheries and aquaculture 2018 – meeting the sustainable development goals. Rome: FAO, 2018.
GEROMEL, E. J.; FORSTER, R. J. Princípios fundamentais em tecnologia do pescado. São Paulo: Secretaria da Indústria e Comércio, Ciência e Tecnologia, Série Tecnologia Agroindustrial (11), 1982.
GONÇALVES, A. A.; CEZARINI, R. Agregando valor ao pescado de água doce: defumação de filés de jundiá (Rhamdia queleni) adding value to freshwater fish: smoking fillets of jundiá. Rev. Bras. Enga. Pesca, v. 3, n. 2, p. 63-79, 2008.
GONÇALVES, A. A.; PRENTICE-HERNÁNDEZ, C. Defumação Líquida de anchova (Pomatomus saltatrix): efeito do processamento nas propriedades químicas e microbiológicas. Ciênc. Tec. Alim., v. 18, n. 4, p. 438-443, 1998.
HOWARD, J. W.; FAZIO, T. Review of polyciclic aromatic hydrocarbons in foods. Journal of the Association of Official Analytical Chemists, v. 63, n. 5, p. 1077-1104, 1980.
INTERNATIONAL UNION FOR CONSERVATION OF NATURE (IUCN). The IUCN Red List of threatened species – IUCN Red List status. Version 2015.2. Disponível em: www.iucnredlist.org. Acesso em: 19 jun. 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). Estatística da pesca 2007 – grandes regiões e unidades da Federação. Brasília (DF): CGFAP, 2007.
LINS, P. M. O. Beneficiamento do pescado. Belém (PA): IFPA, 2010.
MILER, K. B. M.; SIKORSKI, Z. E. Ahumado. In: SIKORSKI, Z. E. (ed.). Tecnologia de los productos del mar: recursos, composicion nutritiva y conservacion. Zaragoza: Acríbia, 1994. p. 221-245.
MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA (MPA). Boletim estatístico da pesca e aquicultura 2010. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/biblioteca/download/estatistica/est_2010_nac_boletim.pdf. Acesso em: 28 abr. 2020.
MINISTÉRIO DA PESCA E AQUICULTURA (MPA). Boletim estatístico da pesca e aquicultura 2011. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/stories/biblioteca/download/estatistica/est_2011_bol__bra.pdf. Acesso em: 28 abr. 2020.
MÖHLER, K. El Ahumado. Zaragoza: Editorial: Acribia, 1980.
MORAIS, C. Princípios da defumação de pescado. In: Anais do Simpósio e Workshop: tecnologia de salga e defumação de pescado. Guarujá: Instituto de Tecnologia de Alimentos, 1994. p. 21-28.
MORAIS, C. et al. Defumação líquida da truta arco-íris (Onchorhyncus mykis): efeitos do processamento e da estocagem nas propriedades físicas, químicas e sensoriais. Revista do Instituto Adolfo Lutz, v. 56, n. 2, p. 43-48, 1996.
NOFFS, M. D’A. Composição centesimal e de ácidos graxos de algumas espécies de peixes marinhos e verificação de sua utilização na obtenção de óleos. 2002. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Universidade São Francisco, Bragança Paulista (SP), 2002.
NUNES, M. L. Defumação. In: OGAWA, M.; MAIA, E.L. (ed.). Manual de Pesca: ciência e tecnologia do pescado. São Paulo: Varela, 1999. p. 300-306.
OLIVEIRA, M. J. M.; INHAMUNS, A. J. Defumação a quente de diferentes cortes do pirarucu (Arapaima gigas CUVIER, 1829). In: Congresso Brasileiro de Engenharia e Pesca, 14, 2005, Fortaleza. Anais. Fortaleza: FAEP/BR, 2005. p. 1553-1554.
PSZCZOLA, D. E. Tour highlights production and uses of smoke-based flavors. Food Technology, v. 49, n. 1, p. 70-74, 1995.
RHEE, K.S.; BRATZLER, L.J. Benzo(a)pyrene in smoked meat products. Journal of Food Science, v. 35, n. 2, p. 146-149, 1970.
RIBAS, L. C. C. et al. Que peixe é este? O sabor da pesca artesanal na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Publicação do IFSC, 2016. Disponível em: http://arquivos.ifsc.edu.br/comunicacao/que_peixe_e_este_livro_digital.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020.
RODRIGUES, A. M. C.; TOBINAGA, S. Secagem e defumação de filé de peixe de água doce tambacu (Colossoma macropum e Colossoma mitrei). In: XXIV Congresso Brasileiro de Sistemas Particulados. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, Anais, 1996. p. 191-195.
SANTA CATARINA. Decreto Estadual N° 31.455, de 20 de fevereiro de 1987. Regulamenta os artigos 30 e 31 da Lei N° 6.320, de 20 de dezembro de 1983, que dispõem sobre Alimentos e Bebidas. Disponível em: http://www.cidasc.sc.gov.br/inspecao/files/2012/08/DECRETO-ESTADUAL-31455_87_regulamenta-os-artigos-30-e-31-da-Lei-6.320_83.pdf. Acesso em: 20 abr. 2020.
SANTOS, R. D et al. I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular. Arq Bras Cardiol., v. 100, n. 1, p. 1-40. 2013.
SILVA, A. F. A pesca artesanal como arte e como significado cultural: o caso potiguar. ACTA Geográfica, v. 4, n. 8, p. 57-65, 2010.
SILVA, M. K. Aproveitamento gastronômico de pescados oceânicos de ocorrência local em cardápios de restaurantes no litoral de Santa Catarina. 2012. 160 f. Dissertação (Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria): Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú (SC), 2012.
SIMKO, P. Changes of benzo(a)pyrene contents in smoked fish during storage. Food Chemistry, v. 40, n. 3, p. 293-300, 1991.
SOUZA, M. L. R. Comparação de seis métodos de filetagem, em relação ao rendimento de file e de subprodutos do processamento da tilapia-do-nilo (Oreochromis niloticus). R. Bras. Zootec., v. 31, n. 3, p. 1076-1084, 2002.
SOUZA, M. L. R. Processamento do filé e da pele da tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus): aspectos tecnológicos, composição centesimal, rendimento, vida útil do filé defumado e teste de resistência da pele curtida. 2003. 169 f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal (SP), 2003.
SOUZA, M. L. R. Defumação de Tilápia do Nilo (oreochrimis niloticus) inteira eviscerada e filé: aspectos referentes às características organolépticas, composição centesimal e perdas ocorridas no processamento. Ver. Bras. Zootec., v. 33, n. 1, p. 27-36, 2004.
SOUZA, M. L. R. et al. Efeito do peso de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) sobre o rendimento e a qualidade de seus filés defumados com e sem pele. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 25, n. 1, p. 51-59, 2005.
SOUZA, J. M. L. et al. Peixe defumado. Embrapa Informação Tecnológica, Brasília, DF: EMBRAPA, 2007.
SUZUKI, C. R. Guia de peixes do litoral brasileiros. 4 ed., Rio de Janeiro: Ed. Marítimas, 1986.
SZPILMAN, M. Peixes marinhos do Brasil: guia prático de identificação. Rio de Janeiro: MAUAD Editora, 2000.
UNIMONTE. Guia de consumo responsável de pescado. 2 ed., 2015. Disponível em: http://guiadeconsumodepescados.eco.br. Acesso em: 13 ago. 2015.
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ (UNIVALI). Boletim estatístico da pesca industrial de Santa Catarina – 2012. Itajaí, SC: Universidade do Vale do Itajaí, 2013. Disponível em: http://pmap-sc.acad.univali.br/sistema.html?id=597b9266d8597d4a00e6f9c4. Acesso em: 28 abr. 2020.
WARD, A. R. Fish smoking in the tropics: a review. Tropical Science, v. 35, n. 1, p. 103-112, 1995.
WEINACKER, K.; BITTNER, S. Procesos de ahumado y coccion. Alimentos, v. 15, n. 3, p. 39-47, 1990.
Copyright (c) 2021 Revista Brasileira de Gastronomia
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
O conteúdo da revista é de acesso público e gratuito, podendo ser compartilhado de acordo com os termos da Creative Commons Atribuição - Uso não-comercial - Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil. Você tem a liberdade de compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra, sob as seguintes condições:
a) Atribuição — a atribuição deve ser feita quando alguém compartilhar um de seus artigos e deve sempre citar o nome da revista e o endereço do conteúdo compartilhado.
b) Uso não-comercial — você não pode usar esta obra para fins comerciais.
c) Vedada à criação de obras derivadas — você não pode alterar, transformar ou criar em cima desta obra.
Ficando claro que:
Renúncia — qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais. Domínio Público — onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
Outros Direitos — os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
- Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
- Os direitos morais do autor;
- Sireitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
Aviso — para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra.
A revista se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
Os trabalhos publicados passam a ser propriedade da Revista Brasileira de Gastronomia que deve ser consignada a fonte de publicação original. Os originais não serão devolvidos aos autores.
As opiniões emitidas pelos autores nos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.
Esta obra está licenciada sob uma Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 4.0 Internacional.